O RESSURGIMENTO DE FERRO
Ferro Rodrigues - exilado de luxo em Paris - vem hoje nas páginas da revista Visão tecer críticas (algumas delas bastante judiciosas) a José Sócrates, ao seu estilo de governação e à inércia do PS.
Não querendo fazer qualquer juízo de valor sobre as mesmas, nem sequer sobre a legitimidade do meu ex-professor para se oferecer a tal exercício, espero no entanto que este não se torne no Manuel Maria Carrilho do governo de Sócrates (tal como o filósofo o foi em relação à governação de Guterres) e que o actual primeiro-ministro e o PS saibam acolher essa análise crítica com a devida lucidez, retirando daí ilações positivas, procedendo às necessárias correcções no rumo e no estilo, se for esse o caso.
Um governo ou um partido que não saibam aproveitar as críticas (construtivas) para fazer uma auto-avaliação, e assim definirem eventuais inflexões na rota seguida, acabam sempre por ter os seus dias contados, já que o autismo político nunca foi bom conselheiro, especialmente em relação aos membros da mesma família partidária.
Aqui ficam as frases mais "fortes":
"Faz-me confusão que, para algumas pessoas, dizer bem deste primeiro-ministro [José Sócrates] seja dizer mal de Guterres.
Pedem-se sacrifícios a uma parte importante da classe média e a uma determinada geração, que tem entre 45 e 65 anos (...). Se esses sacrifícios são pedidos, é indispensável que isso se faça com menos arrogância e mais humildade.
[sobre o processo Casa Pia] lamento que até hoje, a justiça não tenha apurado as razões e as motivações de indivíduos que me caluniaram na fase de inquérito do processo. Espero que os que me causaram tão graves danos expliquem porque mentiram e foram elementos activos numa tentativa, mais do que de assassínio político, de assassínio de carácter e cívico.
Não fiz pressão para evitar isto ou fazer aquilo. Tentei alertar para o perigo de haver prisões ilegais, como houve, e para um ataque terrível a uma direcção partidária, como aconteceu.
Admito escrever mais tarde um livro sobre o processo Casa Pia (...) houve no entanto pessoas que prestaram declarações falsas e caluniosas, e sabe-se hoje quem são.
Se houver vontade de investigar, confio em que, um dia, saberemos. Poderá ser é tarde de mais.
Continuo a considerar Jorge Sampaio amigo, embora já não o encontre há alguns anos.
[sobre a sua não candidatura à presidência da Câmara de Lisboa em 2005] tendo-me demitido da liderança do PS, faria pouco sentido candidatar-me a Lisboa, a não ser que fosse apoiado, unanimemente, no partido.
Naquela altura, a oposição veio daqueles que achavam, e tinham trabalhado para isso, que a candidatura de Manuel Maria Carrilho era vencedora. Depois de ser secretário-geral, nunca dividiria os socialistas.
Para já afasto o cenário de um regresso a curto prazo à vida política com o actual sistema, porque não gosto de algumas formas como o poder político, judicial e mediático se relacionam.
No domínio do emprego, em Portugal, há demasiados contratos a prazo e recibos verdes.
[sobre um possível referendo ao Tratado da União Europeia] um referendo resultaria numa abstenção enorme.
A Europa precisa de estabilidade constitucional."
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