QUE SPORTING QUEREMOS?
Atendendo ao período de grandes decisões que actualmente se vive no Sporting Clube de Portugal, aqui fica a minha opinião, enquanto sócio e adepto.
Ponto prévio:
Já anteriormente aqui o escrevi: não concordo com a realização desta Assembleia Geral, não tanto pelo objectivo a que a mesma se destina, mas sobretudo porque tal não faz grande sentido a poucos meses da realização de eleições.
Continuo a não encontrar outra adjectivação para este acto de Filipe Soares Franco, a não ser chantagem sobre a massa associativa do Sporting, e uma espécie de auscultação primária sobre a aceitação de uma sua eventual candidatura, junto do universo leonino.
Posto isto, mas em face de tudo aquilo que tenho lido, relido, ouvido, analisado, considero que o Sporting Clube de Portugal deve alienar o seu património não desportivo, sendo um dado adquirido que não tem competência para gerir, explorar e rentabilizar esses mesmos espaços, sinónimo de elevados custos de financiamento e reduzidas receitas.
Se há algo onde deve assentar a prioridade do nosso clube, e de quem o liderar, é indubitavelmente na excelência desportiva, leia-se na formação de atletas - onde a Academia representa um instrumento-chave -, no reforço e consolidação de equipas profissionais de futebol altamente competitivas, na retenção dos grandes talentos.
Creio que é chegado o momento de dizer não à repetição de casos como os de Ricardo Quaresma, Simão Sabrosa, Paulo Futre e Cristiano Ronaldo, em relação aos quais andámos anos a fio a investir recursos materiais e humanos, sem qualquer retorno desportivo para o nosso clube, mas sim para os nossos clubes rivais.
Se o foco na construção de uma equipa altamente competitiva e ganhadora de títulos, com presença assídua na Liga dos Campeões, implica vendermos “gorduras” – passe o exagero do termo utilizado - e canalizarmos o investimento para a criação de fontes credivelmente geradoras de receitas, então aliene-se esse património não desportivo!
É um dado adquirido que a partir de uma equipa vitoriosa decorre o recrutamento de novos adeptos, a angariação de novos sócios, o aumento da venda de merchandising, uma maior receita de bilheteiras, um maior encaixe de receita proveniente dos direitos de transmissão televisiva, enfim, a uma maior quota de mercado no universo desportivo português e europeu corresponderá um significativo aumento de receitas que nos permitirá ter uma maior desafogo, cumprirmos os nossos compromissos perante os credores, leia-se a Banca, e sermos aquilo que há muito almejamos: autosuficientes.
Se pela alienação de património não desportivo tivermos arte e engenho – através de um aumento de liquidez – para incrementar consideravelmente as nossas receitas e em simultâneo reduzirmos o nosso passivo, o serviço da nossa dívida e os custos de financiamento, então estamos no rumo certo.
Se, ao invés, desbaratarmos uma das últimas medidas à qual podemos recorrer, então receio que definitiva e inexoravelmente estejamos a hipotecar o futuro do nosso clube.
Tal como as equipas que têm governado o nosso país, também nós temos uma de duas opções:
1. limitarmo-nos parcimoniosamente a equilibrar as contas e melhorar a saúde económico-financeira, não podendo assim realizar grande investimento por forma a não gerar no imediato mais custos;
2. investirmos em qualidade, gerando no curto prazo maior despesa, mas visando uma maior capacidade competitiva, ampliando assim o campo de probabilidade de mais vitórias e sucessos desportivos, o que nos permitirá aumentar também as receitas.
A primeira opção apresenta menores riscos mas também garante seguramente menos sucesso; a segunda é mais audaz – atendendo ao curto prazo - mas ao mesmo tempo pode levar o clube a mais sucessos desportivos, logo a maior e melhor saúde económico-financeira, a médio e longo prazo.
Dinheiro gasto sem retorno é mero custo; dinheiro que garanta retorno é bom investimento.
Por tudo isto, e porque não vejo qualquer alternativa consistentemente credível, apoio Filipe Soares Franco e voto favoravelmente a venda do referido património não desportivo.
O argumento apresentado por alguns, de que poderemos vir a ter uma loja do FCP ou do SLB no nosso próprio reduto, parece-me um exemplo despropositado, porque seguramente que nenhum desses clubes vive num desafogo financeiro que lhe permita gastar rios de dinheiro apenas para afrontar os adeptos de um clube rival. Eles também andam a contar minuciosamente os seus cêntimos. Não somos apenas nós!
A diferença reside no facto de nós sermos tradicionalmente um clube mais transparente!
Em relação aos candidatos a entrar na próxima compita eleitoral, e assumindo que Soares Franco avançará, pese embora todo o sportinguismo e paixão clubística que me é permitido identificar em Dias Ferreira, Sérgio Abrantes Mendes e demais candidatos, não creio que tenham condições ou apoios suficientes para apresentar projectos alternativos consistentemente credíveis. Ser um fervoroso sportinguista não chega.
É preciso ter capacidade para reunir e mobilizar equipas de qualidade, ter peso para negociar junto dos credores e saber elaborar e implementar sólidas estratégias de gestão empresarial, adaptada às singulares vicissitudes da realidade desportiva.
Nesta fase da vida do nosso clube, uma nova aposta num certo tipo de populismo, ancorado num discurso de facilitismo bacoco, seria o pior que nos poderia acontecer.
Nesse ponto, devo confessar, pese embora tudo o resto, que me tem impressionado a “qualidade” dos apoios que Filipe Soares Franco tem congregado à sua volta.
Em suma, e porque já vai longo este texto, explicito aqui inequivocamente o meu apoio a Filipe Soares Franco, assumindo – enquanto adepto e associado leonino – todos os riscos inerentes a tal opção.
Pode não ser a melhor mas neste momento não vejo outra alternativa!
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