terça-feira, outubro 11, 2005

ARAUTOS DA DESGRAÇA

Lendo os resultados finais das eleições autárquicas do passado fim-de-semana, muitos "abutres" têm saltado para a praça pública, anunciando pomposa e orgulhosamente o fim do CDS, dada a sua "quase" erradicação do mapa autárquico.
Ora, um partido que esteve até há bem pouco tempo no Governo com 4 ministros, que nestas Autárquicas obteve 165.697 votos, que elegeu uma vereadora na maior Câmara do país - onde seguramente será decisiva - que nas últimas Legislativas elegeu 12 deputados conseguindo 415.043 votos (7.26%), parece-me bem longe de estar moribundo.
Seguramente que isso é aquilo que muitos ardentemente desejam, mas ao invés, creio que - não alienando a necessidade de uma profundíssima reflexão por parte dos seus dirigentes - o partido ainda tem muito para dar à vida política nacional, não fosse o CDS cronicamente reconhecido com um partido de grandes quadros.
Apesar de tudo, José Ribeiro e Castro não pode deixar de analisar questões importantíssimas, como sejam:
1. rever a eficácia de uma liderança "à distância", a partir de Bruxelas, longe do teatro de operações;
2. procurar um modo mais inteligente de coabitar com uma bancada parlamentar afecta ao seu adversário no último congresso, e que digeriu mal a derrota;
3. definir objectivamente o tipo de plataforma de entendimento com o PSD;
4. assumir inequivocamente os alicerces democratas-cristãos programáticos do partido;
5. reconstruír as estruturas locais.
É certo que suceder a um líder altamente carismático - como foi Paulo Portas - , cuja liderança marcou indelevelmente o partido não é tarefa fácil, mas o actual homem-forte do Lago do Caldas deve procurar resistir tenazmente à imagem que lhe foi atribuída de líder de transição e sobretudo, deve saber contornar os obstáculos que internamente a ala telmista lhe vai colocar no caminho.
Superar ainda as vozes externas ao partido que - histericamente - lhe estão a assinar uma precipitada certidão de óbito, e cuja ambição é usurpar o espaço ideológico que o partido ocupa, é outra das tarefas espinhosas que se lhe apresenta.
No entanto, e porque creio que chegou ao fim o período de ziguezagues suicidas e de lideranças desastradas, Ribeiro e Castro poderá - e deverá - ser bem-sucedido nesses desafios que se lhe colocam. A democracia portuguesa precisa de um partido democrata-cristão forte.
It's not over, until the fat lady sings!